UM CONTADOR DE HISTÓRIAS

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Nosso primeiro encontro deve ter ocorrido na Escola do Padre, apelido dado à Escola Paroquial São José, então comandada pelo severo Padre Jackson que viria a ser o bispo D.Jackson Berenguer Prado. Nisinho da Loló era alcunha de José Dionísio Nóbrega, filho de Sebastião Nóbrega do Bonfim, o Sebastião Magarefe, e Filomena Macedo, a D.Loló.

Na época, ainda não havia em Euclides da Cunha o curso ginasial. Quem terminava o curso primário tinha que procurar outras paragens para dar continuidade aos estudos. Os mais abastados procuravam a capital, Salvador. Os menos, Bonfim, Feira de Santana ou Tucano.

Nisinho, mais adiantado que eu, foi para Tucano um ano antes. Passou com louvor na Admissão ao Ginásio. O cara era fera!

Ao retornar a Euclides da Cunha, Nisinho apareceu calçado numa botinha de salto igualzinha a do Roberto Carlos, o Rei do Iê-iê-ie. Teve que me vendê-la! E aí, começou a nossa amizade. Convivemos um ano no Ginásio do Padre José, em Tucano e reencontramos-nos estudantes do curso colegial em Salvador. Agora, ele já era Dionísio. Nada de Nisinho! Moramos juntos em alguns quartos de pensão, em vários pontos da cidade. Depois, alugamos um apartamento na Rua Carlos Gomes e, em seguida, na Rua Djalma Dutra, ali perto do Largo da Setes Portas. A minha vida era divida entre o estudo e a boemia. A de Dionísio, entre o estudo, a boemia e o trabalho. Ele já fora admitido como funcionário do Estado através de concurso público. O cara sempre foi fera!

Conviver com o Dionísio não era fácil. Era e é, uma das pessoas mais exigentes que conheço. Exigente e extremamente coerente com suas crenças e princípios. Daí, creio eu, a fama de excêntrico e temperamental. Conosco, nas pensões em que vivemos, conviveram em fase adiantada de sérios problemas de saúde, D. Loló, que morreu precocemente aos 49 anos, e Sebastião, que se foi aos 52. Ali, eu vi o bom filho se desmanchar em sofrimento e lutar para salvar os pais. Essa guerra, infelizmente, ele perdeu cedo. Bom irmão, conduziu os outros seis órfãos pelos melhores caminhos possíveis. Quem não cresceu com ele, foi porque não quis

Mais de 30 anos nos separam da convivência de meninos euclidenses. As transformações pelas quais os caminhos da vida nos fizeram passar, de fato nos distanciaram não só fisicamente. As idéias e os propósitos que nunca foram os mesmos tomaram corpo em forma de filosofias de vida bem distintas. Duas coisas no entanto se fortaleceram o respeito mútuo e a admiração .

De posse de um diploma de curso técnico em Administração, foi braço direito do catedrático Jorge Hage, hoje figura importante da República. Estágios em outras capitais o transformaram em um disputado Técnico em Administração Pública. Estimulado pela experiência no setor, fez vestibular para o Curso de Administração Pública da Universidade Federal da Bahia. Passou e concluiu o curso com distinção e honra. O cara sempre foi fera!

De volta à Bahia, reencontro Dionísio que é hoje Auditor Fiscal do Estado da Bahia, cargo que obteve através de concurso publico. O cara é...

Mas o que Dionísio gosta mesmo de fazer, é ouvir e contar histórias. O Auditor Fiscal é muito mais um competente historiador do que um Auditor. Apesar disso, o acesso que tive a uma autuação dele, embora cruel, me deixou a certeza de que tudo o que ele faz, até mesmo o que não gosta, o faz muito bem feito.

Dionísio, que é um legitimo Abreu, sobrinho-neto de Quinquin Paranhos de Abreu,vem se dedicando ao estudo da história de Euclides da Cunha e das regiões circunvizinhas , fazendo profundas investigações nas árvores genealógicas e revelando fatos importantes sobre acontecimentos e pessoas.

Nessa segunda- feira, 07 de Julho,o historiador vai apresentar, a uma curiosa platéia,a história do Capitão Francisco Dantas que há exatos 100 anos foi Intendente da nossa cidade natal.Segundo Dionísio, o Cap. Chico Dantas, pai de figuras carismáticas da cidade como José Dantas e Joaquim da Silva Dantas, Ioiô,foi uma das mais importantes figuras da região no século passado.

Celso Mathias

2 comentários:

Unknown disse...

Muito legal, fez-me lembrar "personagens" de Condeúba..rsrsrs...Coisas do interior... Acho muito bacana esses resgates. Parabéns pra ele e pra você que está divulgando.
Ah! Gostei mais ainda do "O cara era fera!"...rsrsrs
Abraços

Unknown disse...

Prezado Celso;

Me chamo João Barreto, sou Administrador de Empresas e tenho Empresa de consultoria fiscal e tributária localizado na região do iguatemi.
Sou neto de Francisca Abreu de Menezes e Antonio Pires que foi prefeito de Chorrochó e politico da região, sou filho de Rita Abreu e sobrinho de Walter Abreu Pires - Procurador do Estado.

Aprecio muito sua atuação em reerguer a historia da região e consequentemente da minha familia ,pois tenho interesse no resgate da memoria e da arvore geneologica da familia Abreu, assim como o Dionisio abreu, citado em sua nota.
Parabens pelo seu ilustre e notorio trabalho e pela memoria do seu Pai Jaime Amorim - destacado politico da região, como todos tem conhecimento.Desejo que o trabalho se prospere cada vez mais.

Att

Adm.João Barreto