HÁ ALGO ERRADO NESSA HISTÓRIA

sexta-feira, 4 de julho de 2008

No célebre romance de Shakespeare, Hamlet, após perceber e afirmar que havia “algo de podre no reino da Dinamarca”, passou a fingir-se de louco incapaz de compreender o que se passava ao seu redor. Pois é! Há algo de podre na história do espetacular resgate de Ingrid Betancourt.

Tenho lembranças de soldados austríacos voltando anos depois da segunda guerra mundial dos campos de prisioneiros na Sibéria. Estes sim tinham a cara parecida com aquela imagem divulgada há meses pela mídia, falando de uma pessoa debilitada e doente”, manifesta-se um cidadão austríaco cujos pais foram prisioneiros de guerra...

Já o genial Mané Garrincha, numa das aulas táticas de Vicente Feola, o então treinador da Seleção Brasileira de Futebol que traçava o caminho para o gol explicando como se realizaria cada lance, dirige-se meio ingênuo e meio moleque ao treinador e dispara; “Seu Vicente, o senhor já combinou tudo isso com o adversário?”

Ontem as cúpulas, principalmente de França, Colômbia, Estados Unidos, Bolívia e Venezuela quase decretam feriado pelo grande feito das forças Armadas Colombianas que numa operação cinematográfica de Inteligência, resgatou cinco prisioneiros das FARC’s, entre eles, Ingrid Betancourt que se encontrava há seis anos em cativeiro. Filha de um ex-senador e ex-embaixador colombiano com uma ex-miss Colômbia, Gabriel Betancourt e Yolanda Pulecio, ela viveu boa parte de sua juventude em Paris, onde o pai servia como embaixador da Colômbia junto àUNESCO. Estudou Ciências Políticas no Instituto de Estudos Políticos de Paris. Seu ambiente familiar propiciou-lhe o convívio com personalidades como o poeta Pablo Neruda, o escritor Gabriel Garcia marques e o artista plástico Fernando Botero. Em 2002 Ingrid que é franco-colombiana, candidata-se à presidência da Colômbia e é durante a campanha, seqüestrada pelas FARC’s.

Refeito do susto, o mundo pergunta: Como terá sido mesmo essa operação? A Inteligência colombiana dá um banho de competência. Infiltra seus agentes entre os fanáticos e enlouquecidos guerreiros no meio da selva e com esses convivem sem levantar qualquer suspeita (lembram da pergunta do Garrincha ao Feola?), até que um dia conseguem decolar um helicóptero onde só havia os prisioneiros, os agentes infiltrados e dois guerrilheiros idiotas que se entregaram sem qualquer reação, permitindo que todos chegassem são e salvos a uma base militar colombiana que recebeu todos de braços abertos, principalmente a Srª Ingrid Betancourt, altiva, bem cuidada e alimentada, com uma imagem totalmente distante da prisioneira cabisbaixa, esquálida e com fisionomia de doente que comoveu o mundo (lembram-se da observação do cidadão austríaco?) em fotos de poucos meses atrás. Até parece que antes de ser resgatada passou alguns dias em um SPA cinco estrelas.

Hoje pela manhã a imprensa mundial já começou a questionar a operação e sugere que as FARC’s teriam recebido um resgate de U$ 20.000 000,00. Isso mesmo, vinte milhões de Dólares para libertar os prisioneiros (lembram de Hamlet?), um lance de enorme interesse político para os candidatos à Casa Branca, tanto Barack Obama como John McCain, para o presidente francês Nicolas Sarkozy (afinal, Ingrid é também Francesa), Para Álvaro Uribe que não passa de um Hugo Chaves de direita, até, pasmem, o próprio Chaves e Evo Morales. Quem ficou atento aos depoimentos de Ingrid Betencourt, percebeu a sutil ressalva que ela faz aos dois presidentes que todos sabem, possuem fortes ligações com o grupo de celerados que se intitula guerrilheiro.

E quem teria bancado os U$ 20.000000,00? O Estado? Os Estados interessados?Quem cometeu tal irresponsabilidade teria esquecido que essa fortuna em mãos de bandidos vai financiar dezenas de outros sequestros. Financiar o terror?

Quando o Estado negocia com marginais, vira um Estado marginal. As conseqüências disso tudo, sofreremos brevemente. Se a sociedade não se mobilizar para desmascarar ou ao menos esclarecer as circunstância que culminaram com a libertação de Ingrid e dos outros sequestrados que a acompanharam, o uso político desse episódio vai fortalecer principalmente a corja populista que compõe a atual estrutura de poder na América Latina


2 comentários:

Anônimo disse...

Claro que há algo de podre no "reino da Dinamarca"... o capital a tudo e a todos compra... o mesmo capital que coloca no poder os déspotas também sustenta a marginália, oficial ou clandestina... valha-nos, Deus...
J.Caldas

Girllene disse...

Caro Celso

Que sou fã de carteirinha dos seus textos vc já sabe...mas realmente nessa matéria vc se superou!! Está simplesmente FANTÁSTICA!!! Meus mais sinceros parabéns pela CORAGEM, OUSADIA, SENSATEZ, COERÊNCIA e força dos argumentos, quando li a matéria pensei: ai está o material p/ minha aula de história hoje, imprimi e levei p/ sala de aula e o resultado foi fantástico!!!! O bom jornalismo serve p/ isso!!! Sucesso sempre!!!
Abraços
Gigi