O IMPERADOR DO SERTÃO

terça-feira, 8 de julho de 2008

Euclides da Cunha é um município progressista incrustado no sertão baiano, a cerca de 320 km da capital, Salvador. É o que mais se desenvolve na região e polariza as cidades ao seu redor, como Tucano, Monte Santo, Quijingue, Pombal, Araci, Cansanção e Canudos dentre outras.

Até meados dos anos 80, o município foi governado por uma elite política, na época composta pelos chamados coronéis que se revezaram no poder até o ano de 1982, quando o economista Renato Campos rompeu essa estrutura, ao eleger-se prefeito derrotando Antenor Dantas, o último remanescente dessa elite. A proposta de Campos era fazer uma revolução na administração do município e acabar com o clientelismo que até aquela data norteara a política local. Foi o primeiro prefeito do município a portar um diploma de bacharel. Eleito vice-prefeito em 1996, e novamente prefeito em 2000, revelou-se um administrador provinciano, truculento e de idéias curtas. Eleitores que viram nele o caminho para as mudanças, ainda hoje se arrependem de ter deixado de votar no velho Antenor Dantas, que continua vivo e saudável. "Imagina que eu deixei de dar meu votinho encabrestado ao Seo Antenor e fui votar nesse cara", esbravejava arrependido um deles no último São João, enquanto saboreava um delicioso licor de jenipapo numa barraquinha ao lado do Forródromo construído pelo prefeito José Nunes Soares.

José Nunes Soares, O Zé Nunes. Aqui começa outro capítulo na história do Município.

Zé Nunes é o mais bem sucedido empresário que aquela região já produziu. É um ganhador de dinheiro nato. Em meados dos anos 60, ainda ginasiano, enquanto seus contemporâneos que mal completavam a maioridade ingeriam generosas doses de Dreher no bar do Mascarenhas e depois seguiam para a Casa da Alice Grande, Zé Nunes saía da escola e ia se meter entre as peles fedidas que seu pai, Otacílio Soares, comercializava num modesto depósito na Rua do Campo.

Sempre equilibrado e bom moço, Zé Nunes foi absorvendo , assumindo e multiplicando os negócios do pai, que, quando lhe passou o comando de tudo, já era na surdina, o homem mais rico da cidade.

Em 1988, Zé Nunes foi eleito prefeito e fez uma boa administração, levando práticas da sua atividade empresarial para a administração pública. Deixou, ao contrário de todos os outros administradores da chamada nova geração, uma marca de eficiência, habilidade política e, principalmente a ausência de escândalos envolvendo a malversação dos recursos públicos.

Deputado estadual já em quarto mandato, o sertanejo de fala mole consolidou-se como um Democrata moderado que sabe até onde arrisca o pescoço. Carlista leal,tem abertas para ele, as portas de todas as correntes políticas, resultado do tom moderado como conduz a sua atividade parlamentar.

A sucessão-Na vida empresarial, sua habilidade o transformou num poderoso homem de negócios com tentáculos estendidos a várias atividades. Low profile, leva uma vida simples, mas muito distante de simplória. Não ostenta e, não desperdiça o dinheiro que tão bem soube amealhar, porém não se priva das viagens internacionais, de bons restaurantes e dos prazeres que o dinheiro e o poder podem lhe proporcionar. Sempre acompanhado da mulher Fátima, tem uma vida familiar harmônica e ótima relação com os três filhos que estão sendo devidamente preparados para sucedê-lo. Em tudo! O primogênito, por exemplo, como na família Ford ou na do cantor Roberto Carlos, carrega no sobrenome o algarismo romano que lhe define a geração. Chama-se José Nunes II, o “Segundinho”.

O recém aposentado Bill Gates, o homem mais rico do planeta, construiu a sua fortuna em pouco mais de 30 anos. É sensato, econômico, low profile, leva uma vida familiar pacata e cuida muito bem dos bilhões que ganhou a custa de muito trabalho e competência.

Consta que o que fez de Gates o que ele é hoje, foi a fantástica pirâmide de poder que construiu em torno si. Em números hipotéticos, teriam uma fortuna de 10 bilhões de dólares, os 10 homens mais próximos a ele na administração da Microsoft. De 1 bilhão de Dólares, os 100 e assim por diante. Teria sido essa a fórmula encontrada por ele para manter ao seu lado as geniais cabeças que fizeram a Microsoft.

No Brasil, exatamente na Bahia, o mega grupo Odebrecht pratica política similar.

E o que tem essas histórias a ver com Zé Nunes? Aos que se desmancham em elogios ao político euclidense, os adversários rebatem com a tese de que ele é arvore que não dá sombra. Lembram que, tanto no campo político como na iniciativa privada, não permitiu que ninguém crescesse ao seu redor. Na sua poderosa estrutura empresarial, não haveria sequer um executivo de nível. Quem tentou se sobressair foi abortado de forma que a uma certa altura, os filhos já adultos e bem formados pudessem, como já o fazem, ocupar postos chaves. Na política, sepultou todos os que criou. Tanto que, na inexistência de uma liderança pronta para sucedê-lo em Euclides da Cunha e não podendo abrir mão do posto na Assembléia Legislativa da Bahia, teve de optar por uma solução caseira. Tal qual fez nos negócios, lançou candidata a prefeito da cidade, nada mais nada menos do que a mulher, Fátima Nunes.

Adversários&aliados-Uma terceira corrente política local tem utilizado o argumento machista de que a última mulher que governou o município levou a administração ao caos em que se encontra e responde a dezenas de processos por improbidade administrativa. Segundo essa corrente, outra mulher no mesmo cargo seria desastroso. Rebatem os Zenunistas com o slogan “Agora sim, uma mulher de verdade”. Essa mulher de verdade, reafirma essa terceira via, seria tão teleguiada quanto a atual prefeita que também é candidata à reeleição apesar das acusações que lhe pesam

A bucólica cidade que até inicio dos anos 80 fazia a famosa festa de São João fechando a Av.Ruy Barbosa, enchendo-a de barraquinhas a vender bebidas, comidinhas típicas da região e da data, que colocava em cada esquina uma sanfoninha entoando um forró pé de serra, que tinha meia dúzia de vereadores não remunerados a praticar as sextas e sábados um verdadeiro espetáculo de democracia e de embate político idealista, que tinha como secretário de todas as pastas, um único cidadão,-Teophilo Paiva Guimarães, transformou-se, hoje, num monstrengo cuja arquitetura de péssimo gosto parece ter sido criada por um único arquiteto que só sabe desenhar caixotes, fazendo desaparecer sob eles, o belo casario que embelezava a cidade.

O forrozinho foi transferido para um mega- espaço onde, no tradicional São João, bandas pagas a peso de ouro, normalmente com um contrato de exclusividade pra lá de suspeito, tocam de tudo. Às vezes, até forró.

A estrutura administrativa e a Câmara de Vereadores transformaram-se em um verdadeiro cabide de empregos, pagando salários muito além do que se paga na iniciativa privada. Em conseqüência disso, cargos de confiança e a vereança estão envolvidos numa acirrada disputa, onde o objetivo menor é administrar e/ou legislar.

Segundo o historiador José Dionísio Nóbrega, a última grande intervenção urbanística na cidade foi feita pelo prefeito Joaquim da silva Dantas que governou com mão de ferro entre os anos de 1968 a 1972. Construiu praças, escolas , abriu avenidas e nunca se ouviu falar em um caso sequer de corrupção. Joaquim da Silva Dantas, o Ioiô, entrou e saiu da política nessa única administração. Aposentou-se, provavelmente por não fazer concessões.

Excetuando uma parte da Rua da Igreja e da chamada Rua Dos Ricos, não restou, ali, sequer vestígios daquele casario que a fazia encantadora. Não há um só lugar que sirva para alguém sentar e ficar observando a beleza em volta, a não ser, as encantadoras espécimes femininas que a enfeitam.

Não obstante o inequívoco talento político-administrativo do Zé Nunes, do seu poder pessoal de sedução, da marcante possibilidade de, se eleita, Fátima Nunes, apoiada pelo marido, fazer uma brilhante administração, questiona-se a aniquilação das outras lideranças locais. Os adversários, e, por debaixo dos panos, até os aliados comentam a boca pequena. "Quem conseguiu eleger a prefeita a própria esposa ,tem um filho de 28 anos que é engenheiro e bem preparado cujo nome é Jose Nunes II, o Segundinho, advinha a quem elegerá prefeito na sucessão da mulher? Nessa sequência, José Nunes I e ÚNICO, vai transformar-se em breve, no verdadeiro imperador do Sertão.” Arremata.

5 comentários:

Anônimo disse...

só uma pergunta:
seu pai, se vivo estivesse, estaria apoiando a fatima?

Anônimo disse...

Prezado Celso

Parabéns pelo excelente trabalho que vem fazendo.

Ao ler o seu texto de hoje, naquela parte que explica o enriquecimento do Bill Gates e de todos os cérebros privilegiados que o cercam, lembrei, imediatamente, da parábola do Mar Morto e do Mar da Galiléia:

“Na Palestina existem dois mares.

Um é doce e em suas águas abundam os peixes; prados, bosques e jardins enfeitam suas margens. As árvores estendem sobre ele seus ramos e avançam suas raízes sedentas para beber as águas saudáveis. Em suas praias, brincam, aos grupos, as crianças como o faziam quando Jesus ali estava. Ele amava este mar. Contemplando sua prateada superfície, muitas vezes ensinou suas parábolas. Num vale vizinho deu de comer a cinco mil pessoas com cinco pães e dois peixes. As cristalinas águas espumantes de um braço do Jordão, que descem saltitando dos cerros, formam este mar que ri e canta sob a carícia do sol. Os homens edificam suas casas perto dele e os pássaros seus ninhos. E tudo que ali vive é feliz só por estar às suas margens.

O Jordão desemboca ao sul em outro mar. Ali não há movimento de peixes, nem sussurro de folha, nem canto de pássaros, nem risos infantis. Os viajantes evitam essa rota, a menos que a urgência de seus negócios os obrigue a segui-la. Uma atmosfera densa paira sob as águas desse mar que nem o homem, nem a besta, nem a ave bebem jamais.

A que se deve esta enorme diferença entre dois mares vizinhos? Não se deve ao rio Jordão; tão boa é a água que lança num como no outro. Também não se deve ao solo que lhes serve de leito e nem às terras que os circundam.

A diferença se deve a isto: o mar da Galiléia recebe as águas do rio Jordão, mas não as retém ou as conserva em seu poder. Para cada gota que entra, sai uma gota. O dar e receber se cumprem ali em idêntica medida.

O outro mar é avaro e retém, com ciúmes, o que recebe. Jamais é tentado por qualquer impulso generoso. Cada gota que ali cai, ali permanece.

O Mar da Galiléia dá e vive. O outro não dá nada. Chama-se Mar Morto.”

Abraços

Carmen

Anônimo disse...

Fiz um comentárioa respeito da matéria imperador do sertão e lamentavelmente não foi publicada, ou seja, foi censurada como nos velhos tempos da ditadura militar.
O forródromo não foi construído pelo deputado imperador e quanto ao dinheiro público, sugiro que leia a matéria de Samuel Celestino em seu site, publicada no dia 16/06 (polícos baianos na berlinda) onde aparece o honestíssimo deputado com sua 418 obras fantasmas. O comentário anterior censurado tinha mais elementos,mas não perderei mais tempo, pois, sei que o presente também será censurado, o que inviabiliza a credibilidade de tal revista.

Celso Mathias disse...

Não recebemos o seu comentário anterior.Vida Brasil tem como principio, a liberdade de expressão

Anônimo disse...

Celso,
Como está querendo criar uma revista digital porque não começa a fazer editoriais emitindo as suas opiniões.
O primeiro, se houver, deveria ser relativo as eleiçoes municipais de sua terra natal.