VINHOS E NOTAS

segunda-feira, 19 de maio de 2008


Não resisti em reeditar esse brilhante artigo dessa estrela de primeira grandeza que brilha em tudo que se propõe a fazer, meu amigo Ed Mota.Ao final da leitura, você vai perceber que apreciar vinho vai muito mais além do que propõem os chamados "enochatos"

Papo de nota em vinho não cola comigo!

Depois dos preços exorbitantes, o elemento mais irritante no mundo dos vinhos, para mim, são as tais notas. Ou pior, as notas de Robert Parker e da revista de anúncios "Disney Spectator". Já faz tempo que tem uma turma que anda com as notas do Parker decoradas, que funcionam como uma lanterna única de salvação numa caverna escura.


Eu sou um colecionador de várias coisas, todas organizadas em ordem alfabética, com plásticos protetores, etc. O viés quase colecionista, cataloguista do Parker me interessa e eu respeito, mas essa tabuada reduz a pó a inteligência dos sensos.

A idéia da nota eu abomino em qualquer questão da vida. Na música, por exemplo: por que colocar em primeiro lugar John Coltrane em segundo Joe Henderson? Santa estupidez! Esta comparação é odiosa.


Não defendo o relativismo, que é sempre cômodo para muitos, mas classificar um prazer como o de beber um grande vinho com esse pragmatismo é limitado demais.


Grande parte das pessoas precisa dessa muleta intelectual, que vai dos vencedores do Oscar e do Grammy aos 100 pontos de Robert Parker.


O crítico inglês Hugh Johnson em seu famoso guia de vinhos descreve brilhantemente esse fantasma escolar "O motivo pelo qual os EUA gostam dos números (do mesmo modo que os vendedores) é porque são mais simples do que palavras" Wow! Da-lhe Hugh!


Como pode um vinho ter 90 pontos e outro 91? Isso sempre me soou esdrúxulo...

Mas a influência nefasta de Parker vai além de ingênuas notinhas. No documentário Mondovino do corajoso Jonathan Nossiter, o retrato do crítico norte-americano é claro. Parker ao longo dos anos influenciou com seu gosto por vinhos ultraconcentrados o que se produz ao redor do mundo.

Tem vinho Parkeriano em toda parte, esse é o gosto vigente, o correto, o de 100 pontos...

O engraçado é o conservadorismo por grande parte dos consumidores de vinho que olham com implicância qualquer alternativa fora da aura Parkeriana.


Eu nunca dei nota para nada nessa vida, ainda mais meus prazeres. Na verdade, a discussão não é somente a tabuadinha do Parker, ela se amplia também ao famoso Guia Michelin que de uma forma mais sofisticada impinge uma idéia parecida com as tais estrelas. Então a felicidade padrão gourmet é um vinho 100 pontos do Parker num restaurante 3 estrelas Michelin?

Eu tenho profunda antipatia por isso, esse papo "não cola" comigo mesmo.


Coluna do Ed Mota, na Veja Online

2 comentários:

Unknown disse...

Por que ao tomarmos vinho, temos a certeza de que realmente estamos vivos e que estamos preparados para o amanhã? Essa é a sensação...

Anônimo disse...

As notas de avaliação estão presentes em tudo e o vinho,com toda certeza,tambem não escaparia.

Acredito que o grande indicativo das notas é sua ordem de grandeza,sendo as diferenças em unidades o fator pessoal de quem julga.

Portanto,os vinhos acima de 90 seriam os muito bons,na faixa de 80 os bons,de 70 para baixo,os regulares e ruins.

Quando um vinho recebe a nota 96 e outro a nota 91,a diferença deve estar em detalhes como rótulos,rolhas e acabamento das garrafas e nunca no vinho,em si.